Eu escolhi-te naquele dia em que tu estavas a mandar bolas de basquetebol ao cesto nos campos da secundária. Nunca tinha falado contigo. Eras bem parecido. Sabia o teu nome (por acaso) e o suficiente para acreditar que eras bom. Escolhi-te há dez anos por te achar interessante, trabalhador, honesto, um pouco ingénuo, bem intencionado. Na altura ficava-te bem o curso em que tinhas entrado, eras de perto e responsável. As pessoas na escola estimavam-te, eras querido e admirado por quem interessava. Eras tão certinho e eras o que eu queria para mim. Consegui o teu número, mandei-te uma sms – com as letras contadas porque estávamos no tempo em que as sms’s não eram grátis – e um assunto irrelevante e começámos a trocar e-mails que eu escrevia em casa, no word, guardava em diskets e enviava dos computadores da biblioteca da escola. Ao segundo e-mail mandaste-me um poema, que ainda é um dos meus favoritos, e eu rendi-me ao atrevimento do gesto – falava de amor, mas não de um amor qualquer, não de um amor fugaz, mas de um amor que dura até um dia quando a chuva secar na memória, quando o inverno for / tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada / de um velho.
Amadurecidas, as minhas expectativas hoje são as de há dez anos: a vida pacata, inteira de confiança, a saber que posso entregar o meu dia sem medos, sem desconfianças, sem mentiras, sem traições. Não quero perder a brandura do tempo em que te escolhi, sem arrebatamentos de paixão nem juras de amor eterno.
Só tens que ser o meu melhor amigo – o meu melhor amigo sem segredos, o meu melhor amigo sem mentiras, o meu melhor amigo que confia, o meu melhor amigo que não ralha, o meu melhor amigo que não ofende gratuitamente, o meu melhor amigo que escuta a minha opinião, o meu melhor amigo que vai por mim, o meu melhor amigo que atende aos meus sonhos, o meu melhor amigo que me ajuda, o meu melhor amigo que pensa em mim primeiro, o meu melhor amigo que pensa antes de falar.
É difícil mas foi por isso que te escolhi a ti. Por te saber capaz.
Amo-te.