É possível ser feliz em 2013?
Ponto prévio antes de o leitor se debruçar sobre as linhas que se seguem: terminei o artigo anterior prometendo que neste seguiria o mesmo tema. Por erro de cálculo, escapou-me que este era o último artigo antes da quadra de Natal e ano novo. Há algo sobre isto que gostava de partilhar consigo. Por isso, e perdoem-me, voltarei ao emprego no próximo texto. O assunto nesta prosa é outro: a felicidade.
Talvez o tempo (de transformação) e o lugar (Portugal) sejam estranhos para se falar de felicidade. Talvez seja precisamente por ser estranho que é tão importante falar dela. Pela simples razão de que a felicidade é um poderoso motor de transformação social e individual.
Objectivo tão antigo quanto a natureza humana, a felicidade entrou no discurso político através de um dos mais extraordinários textos da modernidade: a Declaração da Independência Americana. Pela mão de Thomas Jefferson, ficamos a saber com desarmante simplicidade que há direitos de todos os tempos, que não são abalados nem perante a conjuntura nem perante as formas de governo: são eles, “a vida, a liberdade e a busca da felicidade”. É nesse texto que encontramos a centralidade oferecida à felicidade que, por ser um direito radicalmente natural e radicalmente individual, galga o plano pessoal e ganha materialização no plano político-constitucional.
Isto, contudo, não faz da felicidade um lugar ou uma condição. Porque a felicidade é intrinsecamente um estado de alma, não se racionaliza. Por isso mesmo, podemos dizer com algum grau de certeza que é impossível balizar a felicidade: para alguns será um bom emprego, uma boa casa e um automóvel de alta cilindrada. Para outros, a felicidade está nas memórias de vitórias em torneios de hóquei na escola, nas namoradas(os), nas saídas com os amigos, nas reuniões de família ou nas férias de Verão. Para outros, está em qualquer no meio disto – ou para além disto.
Mas o meu ponto é menos o que é a felicidade e mais qual pode ser a medida da nossa felicidade nos tempos que vivemos. Repare-se: 2012 foi um ano duro de mais e longo de mais, fomos levados a situações que testaram os limites da nossa resistência e da nossa razão. Ainda assim, fomos capazes de dobrar tormentas, de vencer obstáculos. Juntos fomos capazes de resistir onde muitos previam a desistência, de vencer onde muitos vaticinavam a derrota. Pela frente, em 2013, temos um caminho difícil, que não está livre de adversidades. Isto não significa, contudo, que tenhamos justificação para abandonar os pressupostos da esperança. Ou que possamos apenas encarar a Felicidade como uma felicidade por aquisição, materialista. Aplicando os princípios da ciência económica, muitos dos elementos da sociedade, e o próprio Estado em primeiríssimo lugar, foram tendo custos inversamente proporcionais às utilidades marginais decorrentes dos fenómenos de aquisição em que, erradamente, assentaram os pressupostos dessa “busca da felicidade”.
Vivemos um tempo diferente. Somos mais pobres, é um facto – e seremos mais pobres durante um tempo que muitos pressupõem longo. Mas isto não é uma fatalidade nem representa a morte da felicidade em si mesma; nem nos impede de continuar a busca por este sentimento que dá ânimo e vida aos homens de sempre.
Todos temos de reaprender a ser felizes. A começar pelo Estado: precisamos de um Estado menos soberano e despótico na aleatoriedade das suas decisões; precisamos de um Estado que cumpra a sua palavra, que seja “pessoa de bem”; precisamos de um Estado que vire a sua agenda política para as pessoas. Falo de um Estado menos viciado no hardware e mais focado no software; falo do Estado próximo do cidadão, personalista, que olha para cada cidadão como uma pessoa e não como um número. Aos cidadãos cabe também um papel fulcral: saber procurar a felicidade nas coisas mais simples da vida.
Há um provérbio chinês que descreve de forma sublime o que é a felicidade: é ter alguém para amar, alguma coisa para fazer e algo em que acreditar. Que este Natal nos ofereça a capacidade de ultrapassar as nossas divergências e nos dê a oportunidade de encontrar a medida da nossa felicidade. Afinal é muito possível que praticamente todos tenhamos alguém para amar, algo para fazer e algo em que acreditar.
Daqui: http://www.ionline.pt/opiniao/possivel-ser-feliz-2013