Sete meses, quatro tamanhos de fraldas, muitas marcas de leite e duas sopas por dia depois, estamos a celebrar a entrada no teu oitavo mês de vida.
Sabe que estás cada vez mais bonita, Aurora. Parece que foi há tanto tempo que nasceste e que eras do tamanho de uma laranjinha como me diz toda a gente e, ao mesmo tempo, parece que foi ontem.
Há dias em que tenho que fazer um esforço de memória para me lembrar de ti tão pequenina e tão frágil. As tuas mãos, os teus pés, o teu beicinho pequenino em pleno Inverno. Toda tu tão pequenina. Já tão pouco resta da menina que me pousaram no peito há sete meses.
Tenho saudades. Quando ainda te carregava na barriga, e ansiava mais do que tudo conhecer-te, não imaginava que viesse a sentir saudades destas. Mas sabe que tudo tem o seu tempo e que não trocava a menina que és hoje pela que eras há sete meses se não me dessem a certeza de que era para viver (quase) tudo outra vez.
Nestes últimos dias começaste a bater palminhas quando te pedimos. Bom, não será sempre que te pedimos porque já és um sem número de vontades. Já dizes um maamãããmmm… mesmo que sem o sentido que havemos de lhe dar as duas. Repetes as sílabas ma-mã quantas vezes te apetece, sem saberes ainda que bastam duas para chorar lágrimas de felicidade para dentro e inundar o peito.
Há dois dias levei-te pela primeira vez à praia. Estava sol quando saímos mas escureceu e levantou-se o vento assim que chegámos. Nem deu para te pôr em fato de banho mas foi bom ver-te bater palminhas à água e olhar em volta como fazes em todos os lugares novos. És curiosa e o que não alcanças com as mãos procuras com os olhos. Imagino o fascínio de tantas primeiras vezes.
Adoras a Laila e o gato. A tua avó leva-te para as galinhas para comeres a sopa apesar de a preferires a tudo o resto. Continuas uma pisca e não fossem os teus refêgos deliciosos, andaria mais com o coração nas mãos.
Ainda dormes a noite inteira – não podíamos pedir mais.
Ris-te que nem uma perdida quando brincamos às côcas. Os meu cabelo e o fio que trago de amuleto ao pescoço continuam a ser os teus entretens preferidos.
No dia 3 de Agosto celebrámos o teu Baptismo. Foi uma festa bonita na Eucaristia de Domingo da Praia da Barra onde vivemos por enquanto. Hás-de gostar do padre, pessoa-estrela, que fizemos gosto que te baptizasse. Tu portaste-te tão bem. Estiveste acordada, sossegada e atenta enquanto durou o ritual do baptismo. Depois adormeceste e ficaste assim, tranquila, até ao fim da Eucaristia. E eu olhava-te e acreditava para mim que a tua tranquilidade naquele momento não podia ser só obra do meu colo. E a tua tranquilidade é a minha.
E por mais que eu saiba e possa e tente e queira fazer por ti, pelo teu bem estar e pela tua segurança, tudo o que eu faça só vai paliando as incertezas e inseguranças que conheci contigo. A tranquilidade plena só me é possível quando te entrego todas as noites às mãos de quem realmente te guarda e te protege por seres mais um projecto seu de esperança no Mundo e no Homem.
Escolhemos-te para padrinhos o teu tio Sérgio e a tua avó Fernanda. A segunda por razões óbvias – é doida por ti. Além disso, como era costume dos antigos, vejo uma ternura inexplicável em reunir os papeis de avós e padrinhos na mesma pessoa. E como também espero conseguir ensinar-te: os antigos têm razão na maioria das vezes.
Depois almoçámos todos em casa da avó e madrinha Fernanda. Não podia ser de outra maneira. Não há lugar no mundo para se estar melhor em dias de festa do que na nossa casa, com os nossos. Quem dera que saiba mostrar-te o valor inestimável dessa riqueza.
Hoje, como noutros dias, escrevo isto para não me esquecer. Cheia de gratidão pela tua vida e por tudo o que nos trouxeste com ela.